Não há como negar que hoje em dia vivemos na era da informação. Praticamente qualquer coisa que queremos ou precisamos saber está ao nosso alcance com poucos cliques. Claro que isso é maravilhoso se considerarmos pelo lado da difusão do conhecimento e acesso à informação. É fantástico que possamos aprender infinitas coisas, tirar dúvidas, encontrar ensinamentos com tanta facilidade.
Porém há que se pensar também por outro ponto de vista. Muitos de nós sofrem com o excesso de informação. A quantidade absurda de conteúdo produzida e disponibilizada atualmente e que chega até a nós tão facilmente pela tela de um computador ou celular tem causado um fenômeno que recebeu o nome de information overload ou, em bom português, sobrecarga de informação. Este termo foi apresentado por Alvin Toffer em 1970, que também criou o conceito de Information Fatigue Syndrome (IFS) ou síndrome da fadiga de informação. Essa síndrome ocorre quando nosso cérebro passa a ter dificuldade para acompanhar tudo que estamos consumindo, provocando dores de cabeça, cansaço e estresse, causando erros e levando a decisões equivocadas.
Todos nós sabemos o que é isso. Você também, mesmo que ocasionalmente, não tem a impressão de que consome mais informação do que é capaz de processar? São os sites de notícias, as redes sociais, e-mails sem fim, livros para ler, cursos para fazer, enfim, uma quantidade gigantesca de informação chegando até nós, de forma que nos sentimos sobrecarregados com tanta coisa a ser assimilada pela nossa mente.
Claro que é uma situação recente, uma vez que se trata de uma consequência direta da expansão do uso da internet. Nunca antes tivemos acesso tão fácil e a tantas fontes de informação como acontece hoje. Mas a explicação por traz dessa questão não é nenhuma novidade. Queremos ter acesso a maior quantidade de informação possível pois temos medo de ficar sem saber. Medo de ficar por fora, de perder alguma oportunidade, de não saber o que está acontecendo ou sobre algo que todos estão comentando.
Existe um termo em inglês para essa condição: fear of missing out (F.O.M.O). Ou traduzindo, medo de perder. Um acontecimento, uma notícia, uma novidade, um curso, uma indicação de livro. O que seja. É esse medo que está na raiz da sobrecarga de informação. O medo de perder alguma informação importante leva ao consumo excessivo de informações, muitas delas desimportantes, e à sobrecarga.
Existe em português o termo porforofobia, com o mesmo sentido da expressão F.O.M.O. Ele foi criado pela escritora e jornalista Rosana Hermann e representa, como seu equivalente em inglês, o medo de perder alguma informação e a necessidade de saber de tudo o que está acontecendo. Não se sabe exatamente de onde vem essa necessidade e esse medo, mas há quem acredite se tratar de um resíduo do instinto de sobrevivência intrinsecamente humano.
Para sobreviver, nossos ancestrais primitivos necessitavam dos mais diversos conhecimentos: quais plantas eram venenosas, quais podiam funcionar como remédio, qual a melhor forma de caçar um animal, como cozinhar, como fazer fogo, como se proteger da chuva e do frio. Toda e qualquer informação era útil e todo conhecimento que chegava era importante. Hoje, mesmo em época de informação abundante, nosso cérebro ainda guardaria rastros dessa necessidade de aprender tudo o que fosse possível.
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Por que acontece a sobrecarga de informação?
Qualquer que seja a explicação, o fato é que estamos sim imersos em um oceano de informações. E existem alguns motivos que explicam porque absorvemos tanto conteúdo.
- Hábito. Você senta no computador e a primeira coisa que faz é abrir seu e-mail ou um site de notícias? Ou acorda e já vai logo pegando o celular para ver as notificações? Observe que antes que seu dia comece de fato, você já está acessando novas informações.
- Medo de ficar desinformado: é uma face do F.O.M.O. Ficamos incomodados se não sabemos o que se passa no mundo ou se não temos conhecimento de algum assunto que todos estão comentando.
- Medo de perder alguma oportunidade. Estamos sempre preocupados em deixar passar algum curso, algum livro, alguma indicação. Não queremos perder nenhuma chance porque não ficamos sabendo o que estava acontecendo.
- Vontade de saber tudo sobre algum tema específico. Isso acontece comigo com certa frequência. Quando estamos aprendendo algo novo ou quando existe algum assunto que nos interessa muito, temos a tendência a querer consumir o máximo possível sobre aquilo. O problema é que as vezes passamos mais tempo pesquisando e lendo superficialmente artigos, livros, apostilas do que realmente aprendendo e se aprofundando no assunto.
Por que esse excesso de informação é ruim?
Não precisamos ir muito longe para entender que todo esse excesso de informação causa um grande estresse mental, porque nosso cérebro está o tempo todo processando alguma coisa, quase não há descanso. Também são comuns os problemas de memorização, já que o fluxo de informação é mais veloz do que a capacidade do cérebro de lidar com ele. E tem ainda a questão das dificuldades de aprendizado, pois não há tempo hábil para processar uma informação e transformá-la em conhecimento, em algo que possa realmente ser assimilado.
Outro ponto negativo se refere a grande quantidade de informação inútil ou de baixa qualidade que consumimos. Boa parte do conteúdo a que somos expostos é supérfluo e não nos acrescenta em nada, não é relevante, apenas ocupa desnecessariamente o nosso cérebro e nossos processos mentais. Além disso, mesmo quando buscamos alguma informação útil ou importante, nos deparamos com dezenas de fontes de baixa qualidade, as quais precisamos filtrar até encontrar algo confiável e com credibilidade.
Não posso deixar de falar também que, quanto mais informação disponível, maiores as opções. E quando temos uma grande quantidade de escolhas a disposição podemos ser vítimas da chamada paralisia por análise. Isso nada mais é que ficar sufocado por uma enorme quantidade de informação, de forma que não conseguimos processar aquilo e realmente trazer para nossa realidade de forma prática, como algo que agrega valor. É comum quando precisamos aprender algo novo e ficamos tão fixados em estudar e aprender tudo que é possível que acabamos não conseguindo traduzir aquele aprendizado em ação por acharmos que ainda não sabemos o suficiente. Afinal ainda existem tantos livros para estudar, tantos artigos para ler, tantos especialistas para conhecer.
Outro aspecto é a dificuldade de tomar uma decisão porque temos informação demais. A grande quantidade de dados e referências atrapalha a análise e impede uma visão clara do todo. Isso quando não há um conflito cerebral justamente por não conseguir assimilar e interpretar de forma precisa um volume tão grande de conteúdo.
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Como lidar com o excesso de informação?
Primeiramente, precisamos nos conscientizar que nós sofremos com o excesso de informação porque escolhemos isso. A informação está disponível mas você não é obrigado a consumi-la. O foco não deve ser a quantidade de informação disponível e sim o consumo excessivo de informação. Como, então, gerenciar esse consumo?
Admito que eu ainda estou trabalhando nisso. Li por aí vários textos sobre o assunto (tendo o cuidado de não ler em excesso e não sobrecarregar o meu cérebro! rs) e selecionei algumas dicas para aplicar no meu dia a dia. E são essas dicas que eu trouxe aqui para vocês.
O primeiro passo é definir a forma como você vai administrar a informação que chega até você. E aqui eu estou falando de e-mails, redes sociais, notícias, assuntos que você estuda, blogs que acompanha. Eu, particularmente, já tenho formas de lidar com meus e-mails e com as redes sociais e para mim isso não chega a ser um grande problema. A ideia aqui é limitar a quantidade de acessos e controlar o tempo em cada acesso. O mesmo vale para sites de notícias, uma olhada rápida é mais que suficiente para saber o que está acontecendo por aí.
Diretamente relacionado a este ponto, está a questão da priorização. Sim, nós temos um volume infinito de informação disponível. Mas quanto dessa informação é realmente útil e importante para você? Então, priorize apenas o que é de fato relevante.
E mais que isso, dentro do que é relevante, limite a quantidade de fontes que você consultará. Ao pesquisar essas dicas eu me deparei com umas 15 abas abertas no meu navegador. E isso é algo que eu faço com frequência quando estou pesquisando alguma coisa ou estudando algum assunto. Mas, a realidade é que isso não é necessário. Muitas das abas que estavam abertas apresentavam um conteúdo pouco significativo, incompleto e outras traziam as mesmas informações que eu já tinha lido, apenas escritas de forma diferente.
Então, primeiro priorize, determine o que realmente é importante ou tem utilidade. Depois limite. Descarte fontes pouco confiáveis. Faça uma lista (pequena) de fontes de valor. Estabelecer um limite de tempo para pesquisa e um prazo para concluir o aprendizado também pode ajudar. E tenha senso crítico: você precisa mesmo abrir 20 abas? Ler 20 artigos? Fazer todos os cursos? Ler todos os livros? Assistir todos os vídeos? Claro que não. E nem é humanamente possível.
Eu cheguei as duas conclusões a respeito de toda essa questão de sobrecarga de informação e quero compartilhá-las com vocês para encerrar o post.
- Ao acessar ou buscar uma informação, devemos levar em conta três aspectos: a quantidade de fontes que consultaremos, a qualidade dessas fontes (em termos de confiabilidade, relevância) e a importância real das informações que estamos consumindo (em que nos agrega? será útil? é significativo?).
- Devemos aprender a lidar como F.O.M.O, com o medo de perder. Treinar nossa mente para entender que não há problema em ignorar algumas informações e nem é errado não responder um e-mail ou mensagem assim que chega ou deixar de acompanhar o que as pessoas estão fazendo através de suas redes sociais. Você não precisa saber tudo que está acontecendo no mundo. Nem ler todos os artigos que são publicados dentro da sua área de trabalho.
Quis trazer esse assunto aqui para o blog porque ele está ligado a produtividade em vários aspectos. Seja pelo tempo que perdemos consumindo conteúdo de redes sociais, sites de notícias ou respondendo notificações de mensagens e e-mails. Seja pela dificuldade de tirar do papel um projeto porque ainda achamos que não aprendemos o suficiente por não termos lido todo o material disponível sobre o assunto. Seja pela dificuldade de tomar uma decisão pois temos inúmeros parâmetros e dados a serem analisados. Seja pelo cansaço e estresse que todo o trabalho mental para processar essas informações no causa, diminuindo nossa energia, motivação e concentração.
Agora, me contem: como vocês lidam com esse turbilhão de informações que nos cerca?
Até mais,
Juliana Sales
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