Eu nunca me vi como uma pessoa criativa. Isso porque o senso comum diz que criatividade é fazer coisas inovadoras, diferentes, artísticas. Algo mais ligado às artes em geral – escritores, músicos, pintores. Mas o que eu percebi é que o conceito de criatividade pode ir além disso: pode ser entendida também como o simples ato de criar.
Não lembro bem quando foi que eu comecei a me interessar pelo assunto, já que – mais uma vez pelo senso comum – por ser uma pessoa organizada eu seria alguém metódica, inflexível e zero criativa. E na realidade eu sempre acreditei nisso, e pensava que a criatividade precisa do caos e da liberdade para surgir. E quando falamos da criação artística acredito que talvez seja de fato assim. Mas o ponto aqui é falar de criar coisas, que é algo que todos nós fazemos todos os dias. Você está criando coisas quando pensa em qual look vai usar, quando testa alguma receita ou planeja seu menu semanal, quando se depara com algum problema e precisa encontrar a solução. São infinitas as situações do nosso dia a dia que nos fazem exercer a criatividade.
Eu comecei então a pesquisar sobre criatividade e organização, porque eu já sou organizada e queria também ser criativa, e essas duas coisas pareciam ser contraditórias. Muitos também acreditam que produtividade e criatividade são incompatíveis, já que uma fala de manter os pés no chão, focar e executar e a outra trata de abstrair, “viajar nas ideias”. E quanto mais eu pesquisava, mais eu passava a acreditar que as duas coisas caminham juntas sim.
Há algum tempo atrás eu escrevi um artigo para uma publicação falando sobre como é comum o estereótipo de que quem tem um trabalho criativo é naturalmente desorganizado. E nesse artigo eu argumentava que a organização é sempre bem vinda, não para organizar o processo criativo, mas para organizar todo o resto, até para que se possa ter tempo e tranquilidade para os ditos “momentos criativos”.
Foto de Tim Mossholder em Unsplash
E eu acredito muito nisso. A organização do seu tempo permite que você crie esses momentos em que você pode dar asas a imaginação. Acho que não dá pra negar que é difícil ser criativo quando você tem um prazo apertado ou quando está preocupado se lembrando de todas as outras coisas que você tem para fazer. Se não dá pra planejar a inspiração, dá para facilitar o contexto para que esses momentos aconteçam.
E eu vou me contradizer um pouquinho agora, porque eu acho que até certo ponto dá sim pra planejar a inspiração. Sei que parece absurdo, mas o que eu quero dizer é que acredito ser possível tomar certas ações relacionadas à organização e ao planejamento que ajudam a inspiração acontecer. O primeiro passo é criar os momentos de criatividade, como eu disse acima, no sentido de incluir no seu planejamento um momento para se dedicar ao exercício da criatividade. E aqui eu falo não só de criar alguma coisa, mas de usar esse momento para estudar, pesquisar referências, fazer brainstorm ou simplesmente parar e refletir sobre o assunto para o qual você está querendo criar alguma coisa. E eu acho que isso é válido tanto para escrever uma história, quanto para elaborar um texto técnico ou encontrar a solução de um problema. A ideia não é forçar a inspiração, a criatividade, mas favorecer que elas aconteçam.
Outro ponto é a forma como você organiza suas ideias. Porque se você acredita que a inspiração, que as boas ideias simplesmente surgem, o que é que você faz quando esse estalo acontece em um momento que você não pode aproveitá-lo? Todos trabalhamos com prazos, temos certas tarefas obrigatórias e não dá pra ficar se interrompendo toda vez que surge uma boa ideia para trabalhar nela. Ou às vezes, você nem está ocupado com outra coisa, mas simplesmente não dá pra se dedicar aquela ideia no momento em que ela aparece. O que fazer para que esse lampejo não se perca? A resposta é tão óbvia que talvez eu nem precisasse dizer, mas aqui vai: anotar. É aquela velha dica de ter sempre com você uma ferramenta que te permita fazer anotações, seja o papel e caneta ou um aplicativo de notas. E isso nada mais é que uma das ferramentas mais básicas de qualquer pessoa organizada: a Caixa de Entrada.
De forma similar, é recomendado organizar suas ideias, para que você possa visualizá-las facilmente quando quiser ou precisar. E também organizar as referências que você encontra e que podem ser úteis futuramente. Você pode criar um “banco de ideias” ou uma “lista de referências” e de certa forma isso é quase uma versão ou variação da conhecida lista “Algum Dia/Talvez” do método GTD.
Foto de Estée Janssens em Unsplash
Percebem que a ideia é criar as condições para facilitar o exercício da criatividade? A organização traz tranquilidade ao garantir que as coisas estão em seus devidos lugares e que nada será esquecido por que foi devidamente registrado e armazenado. E também evita o desperdício de tempo. E aqui entra a produtividade, já que o conceito que eu busco e compartilho é que produtividade tem a ver com equilíbrio, no sentido de usar seu tempo de forma que nenhum aspecto da sua vida seja deixado de lado. E se produtividade é usar bem o tempo, de forma equilibrada, isso garante que você possa incluir na sua rotina os seus momentos criativos.
Eu ainda quero falar mais sobre esse assunto por aqui, por que é algo que tem me interessado muito e que eu acho que agrega bastante no sentido de viver uma vida mais leve, tranquila e com propósito. Quando falamos de criatividade existem muitos clichês que são apenas frases repetidas diversas vezes mas que no fundo não fazem muito sentido. O que tenho aprendido é que criatividade é uma habilidade que pode ser aprendida; criatividade é resolução de problemas. E quando aliada à organização, torna nosso dia a dia algo com mais significado.
Até mais,
Juliana Sales
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