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Produtividade leve: novos conceitos e abordagens – parte 2

Hoje vamos continuar a temática do último post, trazendo mais alguns conceitos relacionados à essa concepção de produtividade que busca eficiência tanto quanto busca tranquilidade e bem estar. Como eu disse, felizmente é uma tendência que vem aumentando entre os especialistas de produtividade, então existem também muitos novos conceitos relacionados à ela. Eu não quis trazer todos no primeiro post para não ficar muito extenso. Então, vamos ver mais alguns.

O conceito de soft life tem certa semelhança com a proposta do slow movement. Mas, enquanto o segundo fala de escolher de forma consciente quando desacelerar e acelerar, o soft life defende “suavizar” as coisas. Talvez esse conceito seja uma combinação do slow movement com o JOMO (falei dos dois no post anterior).

A escolha pelo estilo soft life é a busca por uma vida suave (como o próprio nome diz): uma rejeição do estresse e da ansiedade invariavelmente ligados ao trabalho, principalmente em uma carreira tradicional e com horário comercial. É um convite a reavaliar o significado tradicional de sucesso. De certa forma, é também uma crítica ao modelo atual de trabalho, propondo uma redefinição de prioridades, onde o trabalho não domina a vida e nem é a parte mais importante dela.

Aqui a busca não é pelo maximizar, pelo fazer mais, ganhar mais, status, sucesso; o desejo é de fazer o suficiente para uma vida sustentável. Eu vejo como trabalhar para ter conforto material e financeiro sim, mas sem se matar por isso. Afinal, eu sempre pensei que não faz muito sentido se matar de trabalhar e ganhar dinheiro, se você não tem tempo para desfrutar a vida.

Claro que essa é uma condição que não se aplica à realidade de muita gente, onde se matar de trabalhar é uma questão de sobrevivência e não de escolha. Mas aqui estou falando de quem intencionalmente escolhe esse caminho, quando tem a opção de viver de forma mais tranquila. Não vou dizer que é errado, cada um faz o que quiser com sua própria vida, mas é algo que eu nunca almejei. E por vezes até me sentia mal, por ver que a grande maioria dos colegas de trabalho e conhecidos tinha uma visão oposta, de que viver na correria e sem tempo para nada era sinônimo de ser bem sucedido.

flores em um vaso sobre uma mesa com notebook celular xicara chocolate quente

Traduzido como “desistência silenciosa”, esse termo é um pouco polêmico e eu vejo também como ambíguo, já que não tem apenas um lado bom. Essa “desistência” se refere à deixar de dar o máximo de si no seu trabalho. É uma proposta contra a ideia de que você precisa se dedicar totalmente ao trabalho, fazer horas extras, estar sempre se aprimorando, buscando uma promoção, um cargo melhor, um emprego melhor.

O quiet quiting fala de não desempenhar no seu trabalho funções além daquelas descritas no contrato. É uma forma sutil de combater cobranças inapropriadas e exageradas, fazendo apenas e exatamente aquilo que você foi contratado para fazer. Não nego que seja também uma forma de enfrentar o modelo de trabalho atual, que adoece as pessoas e sustenta a ideia de que o valor de uma pessoa está diretamente ligado ao seu trabalho, enquanto normaliza trabalhar 10, 12 horas por dia.

O que me incomoda é que, muitas vezes, esse tipo de comportamento é resultado de um burnout, de esgotamento mental, onde a pessoa está tão exausta do ambiente de trabalho, do trabalho em si, sem motivação, que acaba fazendo só o mínimo necessário para não perder o emprego. É uma escolha inconsciente, quase uma resposta de sobrevivência.

Além disso, essa escolha inconsciente também pode ser um sintoma de depressão, representado pela falta de interesse em fazer as coisas ou uma resposta a um trabalho ruim ou que de fato se odeia, mas não se pode abandonar. É um ponto importantíssimo e para o qual precisamos estar atentos quando se fala em quiet quiting.

Porém, sigo achando interessante quando é uma decisão consciente e a pessoa escolhe ser “menos ambiciosa”, por assim dizer. Desiste da alta performance, do sucesso absoluto, da busca pelo status, porque para ela deixa de valer a pena, não interessa mais. Ela para de acreditar que o sacrifício e a dedicação integral ao trabalho são necessários para uma vida feliz e bem sucedida.

notebook xicara sobre uma mesa com luzes ao fundo

Tem post aqui no blog só sobre isso, e eu gosto porque não é apenas um conceito, é um projeto concreto, algo já colocado em prática. E pode ser uma representação dessa produtividade saudável, que busca a eficiência no trabalho sem abrir mão de ter qualidade de vida e estar bem.

Acredito que essa redução dos dias da semana de trabalho pode ser a primeira alternativa viável para começar a mudar o modelo atual de trabalho, que eu já critiquei algumas vezes por aqui. Eu falo de trabalhar menos e isso passa por trabalhar de forma mais eficiente. E a jornada de 4 dias é exatamente isso.

Fica ainda mais interessante porque não é uma ação individual, mas sim uma decisão tomada pelo empregador. Eu sempre compartilho aqui dicas que cada um pode aplicar dentro da sua realidade e para lidar com as coisas sobre as quais tem controle. E a questão do horário de trabalho é justamente uma das coisas sobre a qual a maioria das pessoas não tem controle. Vejo como uma possível solução para quem está preso no modelo tradicional de trabalho, com horário tradicional e etc., já que é um modelo adotado pela empresa, é uma mudança organizacional (no post que eu linkei ali no começo eu explico com mais detalhes).

Dentro dessa visão de produtividade, que não exclui o bem estar, estão sempre surgindo novas ideias e abordagens, assim como propostas para colocar esses conceitos em prática – seja através de métodos e ensinamentos de especialistas, por decisões individuais ou mesmo empresas e organizações que aos poucos começar a mudar seu entendimento sobre o que é produtividade.

Algumas dessas ideias podem ser passageiras, apenas uma “moda” que vai ser deixada de lado; outras, porém, tem potencial para se consolidar e podem ser o começo de uma mudança na sociedade e no mercado de trabalho como um todo no que se refere à definição de “ser produtivo”.

Até mais,

Juliana Sales

Sobre mim

Engenheira, apaixonada por livros, animais, fotografia e natureza. Produtividade e organização são assuntos que sempre fizeram parte da minha vida e esse blog é para falar sobre o assunto, mas sem cobranças nem idealizações e sim para viver uma vida mais leve, tranquila e com propósito.

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Comments

2 respostas para “Produtividade leve: novos conceitos e abordagens – parte 2”.

  1. Avatar de helenhelenacardoso
    helenhelenacardoso

    Sempre gosto muito das imagens que você escolhe para acompanhar seus textos.
    Esta imagem do vaso de flores e do cafezinho ao lado do computador e do celular, por exemplo, parece ter sido feita sob medida para o tema que você trouxe.

    Curtido por 1 pessoa

    1. Avatar de Juliana Sales

      Que bom saber, Helena. Sempre escolho com cuidado as imagens que uso porque realmente quero que elas ajudem a transmitir a ideia do post.

      Curtido por 1 pessoa

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